As sapateiras

A Biota Aquática da baía de Todos os Santos e costa Atlântica de Salvador, Bahia

Sapateira-brasileira (Scyllarides brasiliensis)

Sapateira-espanhola (Scyllarides aecnoctialis)

Sapateira-ornamentada (Parribacus antacticus)

  • Subfilo: Crustacea
  • Ordem: Decapoda
  • Família: Scyllaridae
Sapateira-brasileira (Scyllarides brasiliensis) fotografada durante um mergulho noturno no Quebramar Norte, baía de Todos os Santos, Salvador, Bahia (Foto: Fagner Costa Rodrigues)

DESCRIÇÃO

As sapateiras são muito semelhantes às lagostas tendo como principal, mas não única diferença a ausência das enormes antenas das lagostas. O corpo das sapateiras é um pouco mais achatado, olhos pequenos situados na porção anterior da carapaça que apresenta na sua face dorsal tubérculos semelhantes a escamas e pêlos curtos uniformemente espalhados.

As sapateiras também possuem antenas, porém estas são diferentes das antenas das lagostas, elas possuem um formato achatado e largo com bordas mais finas e arredondadas semelhante a placas situadas aos lados da porção frontal da carapaça.

A sapateira-ornamentada apresenta como principais características uma coloração amarelada com manchas escuras distribuídas por toda a carapaça, inclusive as antenas que apresentam a as bordas com um recorte dentado. Já a sapateira-brasileira tem como principal característica duas manchas circulares e avermelhadas na região dorsal do primeiro segmento abdominal, além de uma coloração parda uniforme ao longo do corpo e as bordas das antenas margeadas por uma faixa roxa seguida de uma faixa amarelo-alaranjada. A sapateira-espanhola tem o corpo parecido ao da sapateira-brasileira, porém ao longo da região dorsal de toda a carapaça apresenta manchas marrom-avermelhadas e ao invés das manchas circulares avermelhadas no dorso do primeiro segmento abdominal, a espanhola apresenta duas manchas semicirculares escuras margeadas de branco amarelado neste mesmo segmento e as faixas margeando as bordas das antenas quando presentes são roxo-avermelhadas.

A sapateira-espanhola é a maior das três sapateiras que ocorrem na baía de Todos os Santos, podendo atingir até 30cm de comprimento total, já a sapateira-ornamentada e a sapateira-brasileira podem atingir até 20cm de comprimento total, sendo a sapateira-brasileira e a sapateira-espanhola um pouco mais largas proporcionalmente que a sapateira-ornamentada.

Sapateira-brasileira (Scyllarides brasiliensis) fotografada durante um mergulho noturno no Quebramar Norte, baía de Todos os Santos, Salvador, Bahia (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

BIOLOGIA

As sapateiras possuem preferência por habitat em ambientes recifais, sejam recifes de coral, costões rochosos ou mesmo ambientes artificiais que apresentem complexidade estrutural suficiente para que estes animais passem o dia entocados. A sapateira-espanhola também pode ser observada em fundos arenosos e para se protegerem durante o dia elas se enterram na areia.

Todas as três sapateiras podem ser observadas em baixas profundidades, entre 0 e 3m, porém a sapateira-ornamentada pode alcançar até 30m de profundidade ou um pouco mais, a sapateira-espanhola já foi registrada aos 180m de profundidade a sapateira-brasileira aos 475m de profundidade.

As sapateiras são animais de hábitos solitários, noturnos e crípticos e por isso são muito difíceis de serem vistas durante o dia quando costumam ficar entocadas, algumas vezes formando pequenos grupos.

São animais gonocóricos, ou seja, há a diferenciação entre machos e fêmeas nas espécies. A reprodução se dá após um ritual pré-copulatório por meio do movimento mais frenético dos membros olfativos e táteis. A transferência do esperma é feita por meio indireto.

Assim como a maioria das lagostas, a dieta das sapateiras é onívora oportunista detritívora e elas se alimentam principalmente de animais mortos e outros detritos e matéria em decomposição, porém as sapateiras também já foram observadas predando moluscos bivalves, abrindo as suas conchas com destreza.

DISTRIBUIÇÃO

A sapateira-ornamentada possui uma distribuição bem ampla, com registros para a Flórida, o Golfo do México, o Caribe e o Nordeste do Brasil no Atlântico Ocidental, além das ilhas Ascenção no meio do Atlântico e de Cabo Verde no Atlântico Oriental, e registros no Indo Pacífico desde o leste da África ao Havaí.

A sapateira-brasileira ocorre desde o norte da América do Sul até Salvador, Bahia e a sapateira-espanhola até o litoral de São Paulo.

Na baía de Todos os Santos, com muita sorte estes animais podem ser avistados em mergulhos noturnos realizados no Molhe Sul e no Quebramar Norte. Recentemente uma sapateira-ornamentada foi registrada durante o dia dentro dos escuros porões frigoríficos do naufrágio do Ho-Mei No.III a pouco mais de 30m de profundidade, local acessível apenas para mergulhadores técnicos devidamente habilitados.

Sapateira-ornamentada (Parribacus antarcticus) fotografada durante um mergulho técnico de penetração no porão frigorífico do naufrágio Ho-Mei No.III, baía de Todos os Santos, Salvador, Bahia (Foto: Roberto Amarante Costa Pinto)

STATUS DE CONSERVAÇÃO E AMEAÇAS

As três espécies de sapateira que ocorrem na baía de Todos os Santos são consideradas como sendo espécie pouco preocupante em nível mundial pela IUCN, porém a população destas lagostas sofreu forte declínio ao longo da sua área de distribuição. Na baía de Todos os Santos por exemplo, qualquer mergulho noturno n naufrágio do Blackadder, no Molhe Sul ou no Quebramar Norte era comum observar alguns exemplares, hoje estes registros são raros, o mais provável é não ver nenhum exemplar durante os mergulhos.

As sapateiras em geral, por terem a anatomia, o tamanho do abdome, o sabor e por conta disto também o valor comercial parecido (ligeiramente menor quando vendida com a carapaça do cefalotórax) ao das lagostas é muito apreciada pela pesca direcionada a estes organismos. A sapateira-brasileira inclusive uma das cinco espécies de lagostas com maior importância comercial os pescadores que atuam na plataforma continental amazônica, entre a ponta do Tubarão, no Maranhão e o Cabo Orange no Amapá.

Sapateira-ornamentada (Parribacus antarcticus) fotografada durante um mergulho técnico de penetração no porão frigorífico do naufrágio Ho-Mei No.III, baía de Todos os Santos, Salvador, Bahia (Foto: Roberto Amarante Costa Pinto)

 

 

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Autor(es)

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Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância.
Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições.
Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI.
Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.

About Rodrigo Maia-Nogueira

Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância. Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições. Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI. Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.

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