Mais uma publicação confirma que o combate ao coral-sol apesar de difícil é necessário efetivo!!

Como foi divulgado aqui anteriormente, em março deste ano (2021) Joel C. Creed e coautores publicaram o artigo “Multi-site experiments demonstrate that control of invasive corals (Tubastraea spp.) by manual remova lis effective” na edição 207 do periódico Ocean and Coastal Management, nesta ocasião os autores constataram que o ato da remoção manual do coral-sol (Tubastraea spp.) não apresentou efeito significativo na abundância de larvas do coral invasor, e que repetir o método de remoção manual bimestralmente acarretou na redução da cobertura do bioinvasor nas áreas manejadas a zero. Constataram ainda que mesmo nos locais onde houve esforço único de remoção manual, o método é eficiente, especialmente nos locais com baixa densidade de colônias deste coral.

E por fim Joel C. Creed e coautores concluem que a remoção sim é eficiente e deve ser aplicada em sinergia com outras medidas que tenham como objetivo retardar a disseminação destes invasores, além da promoção e recuperação do ecossistema dando tempo para o desenvolvimento de ferramentas adicionais de combate a estes organismos.

Em um novo estudo publicado neste mês (agosto de 2021) na edição 31(8) do periódico Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Edosystems, intitulado “Sun coral management effectiness in a wildlife refuge from south Eastern Brazil”, Lucca A.C. Savio e coautores que reforçam a eficácia dos esforços de remoção manual e assim como Joel C. Creed e coautores, também deixam claro que apenas a remoção pode não ser efetiva a médio e longo prazo, e que em paralelo ações que promovam a recuperação dos ecossistemas são extremamente necessárias.

Nova publicação de Savio e coautores que reforça a efetividade e a importância do combate ao coral-sol.

Em Salvador e na baía de Todos os Santos, desde o primeiro registro realizado em dezembro de 2007 no extinto naufrágio do Cavo Arthemide, o foco inicial após uma breve tentativa de remoção de colônias em uma ação única no recife dos Cascos em 2012 tem sido na implementação de ações de controle e monitoramento a fim de viabilizar pesquisas e experimentos, com raras ações de gestão e mobilizações realizadas com o objetivo de remover de fato colônias de coral-sol como as que são realizadas desde 2012 até os dias atuais, de tempos em tempos, pela Organização Socioambientalista PróMar e em menor frequência por algumas escolas e operadoras de mergulho, a exemplo da Shark Dive que promove ações de remoção em ambientes profundos como o naufrágio do Ho-Mei No.III entre 31m a 33m de profundidade utilizando o seu staff com habilitação de mergulho técnico uma vez que a profundidade inviabiliza ações abertas ao público ou a pessoal não habilitado para mergulhos profundos e descompressivos.

Ação de remoção de coral-sol (Tubastraea spp.) em um pier na baía de Todos os Santos (Foto: Roberto Amarante Costa Pinto)

Há um projeto em discussão e formatação envolvendo organizações não governamentais, empresas de consultoria ambiental e a Associação de Mergulhadores Recreativos da Bahia (AMERB) que pretende no fim do período de fortes ventos realizar ações de remoção do coral-sol e restos de experimentos antigos e não mais sendo utilizados em um recife natural que é um dos primeiros e maiores focos de contaminação destes invasores na baía de Todos os Santos, e posteriormente estender estas ações a outros dos mais de 40 focos de infestação deste organismos na baía de Todos os Santos.

E, também na baía de Todos os Santos, está ocorrendo um projeto pioneiro que consiste na utilização de esqueletos triturados de coral-sol que são removidos por mergulhadores da PróMar em suas ações e que são utilizados como base para o cimento ecológico utilizado para construir estruturas que são utilizadas para a fixação de colônias de corais nativos resgatados em áreas de dragagem até que estes se recuperem e possam enfim ser reintroduzidos em ambiente natural promovendo a recuperação dos recifes degradados.

Situação atual do coral-sol na costa de Salvador e baía de Todos os Santos (Imagem/carta: Rodrigo Maia-Nogueira)

 

OUTROS CORAIS INVASORES EM SALVADOR E NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS

Colônias do coral-azul fotografadas no Parque Natural Municipal Marinho da Barra, Salvador, Bahia (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Infelizmente o coral-sol (Tubastraea spp.) não é o único coral invasor conhecido para a costa de Salvador e baía de Todos os Santos que ainda sofre com corais mole, como o coral-azul que desde a sua divulgação em 2018 vem se se alastrando fortemente pelo Parque Natural Marinho da Barra e está ocupando vastas áreas antes dominadas por espécies nativas como o coral-mole-do-Brasil (Neospongodes atlanticus), o coral-carijoa (carijoa riisei), o coral-cacto (Plexautella grandiflora) e outras espécies de cnidários e outros organismos bentônicos incrustantes, e temos o coral-marrom que inicialmente foi registrado nas praias da Barra, em especial no Porto da Barra e recentemente em um recife natural no Parque Marinho da Cidade Baixa, no interior da baía. Até o presente momento não são conhecidos esforços de combate a estes corais mole invasores, alguns mergulhadores tem soterrado colônias com areia, porém apesar de não se ter noção da efetividade deste tipo de ação ela é realizada de forma bem esporádica.

Colônia do coral-marrom que vem sendo monitorada desde o início de 2021 no Parque Marinho da Cidade Baixa (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

 

FONTES

Creed, J.C.; Casares, F.A.; Oigman-Pszczol, S.S.; Masi, B.P. 2021. Multi-site experiments demonstrate that control of invasive corals (Tubastraea spp.) by manual removal is effective. Ocean and Coastal Management, 207(105616):13pp. [Abstract]

Maia-Nogueira, R. 2021. Combater o coral-sol é possível? A remoção manual é eficiente? Bolg EcoBioGeo [LINK]

Pinto, J.R.C. 2020. Experimento de restauração de recifes de coral, utilizando esqueletos das espécies bioinvasoras de coral-sol como substrato, na Baía de Todos os Santos, bahia, Brasil. Blogo do Carbono 14 [LINK]

Sampaio, C.L.S.; Miranda, R.J.; Maia-Nogueira, R.; Nunes, J.A.C.C. 2012. New occurrences of nonindigenous orange cup corals Tubastraea coccinea and T.tagusensis (Scleractinia: Dendrophylliidae) in Southwest Atlantic. Check List, 8(3):528-530 [Abstract]

Savio, L.A.C.; Dias, G.M.; Leite, K.L.; Godoi, S.N.; Figueiroa, A.C.; Neto, G.F.O.; Correa, E.C.; Francini, C.L.B.; Shintate, G.; Kitahara, M.V. 2021. Sun coral management effectiveness in a wildlife refuge from south-eastern Brazil. Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Edosystems, 31(8):12pp [Abstract]

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Autor(es)

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Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância.
Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições.
Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI.
Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.

About Rodrigo Maia-Nogueira

Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância. Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições. Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI. Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.

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