Coral-sol (Tubastraea coccinea) registrado no naufrágio do ferry boat Agenor Gordilho

Durante um dos mergulhos do monitoramento da biota aquática nos naufrágios do ferry boat Agenor Gordilho e do rebocador offshore Vega realizado esta semana registramos uma colônia de coral-sol (Tubastraea coccinea) no costa de boreste, próximo à popa do Agenor Gordilho.

Este registro se deu logo no início do mergulho que seria realizado para fazer censos de peixes, logo que chegamos no fundo, aos 34.4m de profundidade, próximo à popa do navio. Como esta colônia foi registrada resolvemos abortar a missão original que era realizar alguns censos estacionários para o monitoramento da ictiofauna e resolvemos fazer uma vistoria nos costados abaixo da linha d´água original, trecho mais profundo do naufrágio e menos visitado.

Como a colônia foi registrada próximo à popa resolvemos inicialmente verificar a região dos hélices e leme e depois seguimos pelo lado de bombordo do navio já que a posição ligeiramente adernada cria áreas de sombra neste lado do navio, locais que acreditamos tenha a maior probabilidade de ser colonizada por estes organismos, porém neste costado nenhuma outra colônia foi encontrada.

A profundidade limita um pouco o mergulho e como a programação do dia considerando a missão que tínhamos planejado realizar não incluía o uso de mais de um cilindro e portanto não estávamos preparados para estender o mergulho e também os procedimentos descompressivos, uma vistoria com mais atenção no costado de boreste deverá ser realizado em breve.

Considerando o tamanho da colônia registrada imaginamos que ela não é tão recente e portanto existe a possibilidade de também existirem outras colônias.

Os outros trechos do navio, tais como os dois conveses de transporte de automóveis, o salão de passageiros, os corredores, as escadas e as casarias de comando tem sido monitoradas com mais frequência e nestas áreas ainda não existem registros desse coral.

No dia seguinte fizemos um mergulho no naufrágio do Vega, o mergulho seria realizado para fazermos os censos estacionários para o registro da ictiofauna porém com o registro do dia anterior no naufrágio do Agenor Gordilho planejamos então uma vistoria completa no Vega.

Verificamos todo o casco, toda a área externa da casaria e as áreas em que a penetração é possível sem aparato de mergulho técnico para penetração em naufrágios e nenhuma colônia foi registrada.

A chegada deste organismo já era esperada, sabia-se que era só uma questão de tempo. A possibilidade da colonização pelo coral-sol foi inclusive motivo de manifestações por parte de pesquisadores preocupados com o risco dos naufrágios atuarem como mais um trampolim na dispersão deste bioinvasor na baía de Todos os Santos.

Esta primeira colônia registrada foi retirada e à partir deste momento será empregado por parte das operadoras de mergulho envolvidas maior esforço em vistorias periódicas para o registro de novas colônias e a sua devida remoção imediata por mergulhadores capacitados em mergulhos profundos, no uso de misturas e na realização de procedimentos descompressivos, além de terem atuado em campanhas de remoção deste coral em outros pontos da baía, tais como os recife dos Cascos, piers e atracadouros de diversas localidades.

Até o presente momento 3 espécies exóticas invasoras foram registradas para os naufrágios do ferry boat Agenor Gordilho e do rebocador offshore Vega:

  • Briozoário-rendado-branco (Triphyllozoon cf. arcuatum)
    • Espécie registrada em ambos os naufrágios e em bastante número
  • Siri-bidu (Charybdis hellerii)
    • Espécie mais registrada em ambos os naufrágios, porém mais frequente no ferry boat Agenor Gordilho.
    • Todos os espécimes encontrados estavam mortos e não mostravam indícios de predação.
  • Coral-sol (Tubastraea coccinea)
    • Espécie registrada apenas no ferry boat Agenor Gordilho até o presente momento.

O coral-sol é uma espécie exótica invasora, originária do oceano Pacífico e que nos últimos 20 anos vem se espalhando pela zona costeira brasileira onde chegou incrustado em plataformas de petróleo.

O primeiro registro do coral-sol na costa se brasileira se deu no litoral fluminense e atualmente já se encontra presente em pelo menos 7 estados brasileiros competindo por espaço e nutrientes com as espécies nativas.

Em salvador o primeiro registro se deu em dezembro de 2007 em um mergulho realizado no naufrágio do Cavo Artemide e nos anos que se seguiram novos registros foram realizados no recife dos Cascos e em alguns piers e atracadouros. Atualmente são conhecidos mais de 40 pontos de colonização destes organismos na baía de Todos os Santos, tanto em recifes naturais como os Cascos, a Falha do Cretino, o recife da Boa Viagem e em alguns recifes internos da baía como em diversos piers e atracadouros e outras estruturas artificiais como o quebra-mar norte. Dentre os naufrágios este coral já foi registrado no Blackadder e no Ho-Mei No.III, e agora no ferry boat Agenor Gordilho.

Considerando os empreendimentos previstos para a baía de Todos os Santos nos próximos anos, tais como a ampliação das marinas, piers, e até mesmo a ponte Salvador – Itaparica, se faz necessária a implantação de um programa de monitoramento e controle deste e de outros bioinvasores.

 

 


IMPORTANTE

Não autorizamos o uso das informações e das imagens desta postagem para fins comerciais especialmente a utilização dos dados apresentados em relatórios técnicos ambientais sem a devida autorização. O monitoramento da biota aquática nos naufrágios do ferry boat Agenor Gordilho e do rebocador Vega vem sendo realizado desde novembro de 2020 pela equipe da EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico em parceria com a Shark Dive Escola e Operadora de Mergulho de forma voluntária, por iniciativa própria e sem vínculo com nenhum processo de licenciamento ambiental.

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Autor(es)

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Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância.
Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições.
Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI.
Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.

Bruno Lima de Menezes
Instrutor de Mergulho at Shark Dive / EcoBioGeo | + Artigos

Bruno é mergulhador científica com habilitação em mergulho sidemount, intro to tech, nitrox e procedimentos descompressivos, além de instrutor de mergulho.
É também formado em ciências biológicas pela Universidade Católica do Salvador (UCsal) e foi pesquisadora do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática). Atualmente compõe a equipe de mergulhadores científicos da EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico e é um dos proprietários da Shark Dive Escola e Operadora de Mergulho.

About Rodrigo Maia-Nogueira and Bruno Lima de Menezes

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