Hoje, dia 20 de fevereiro de 2021 completam 90 dias corridos e amanhã, no dia 21 o terceiro mês após a fundamento os naufrágios do ferry boat Agenor Gordilho e do rebocador offshore Vega as suas estruturas já se encontram completamente tomada por organismos incrustantes e numerosos cardumes de peixes.
Até o presente momento temos registradas 62 espécies, das quais 52 foram registradas no naufrágio do ferry boat Agenor Gordilho e 39 no naufrágio do rebocador offshore Vega.


Ao todo foram registradas 23 famílias de peixes no Agenor Gordilho e 21 famílias no Vega, sendo a família Carangidae a que apresentou maior quantidade de espécies registradas (N=8) seguindo por Lutjanidae (N=5), enquanto para o Vega a família com maior número de espécies registradas foi Blenniidae (N=5) seguida por Haemulidae (N=4).

Dentre as espécies, apesar da aparente redução do tamanho dos cardumes, o xixarro (Decapterus macarelus) ainda aparece como a espécie mais abundante em ambos os naufrágios, seguindo pela quatinga (Haemulon aurolineatum), pelas sardinhas (Clupeidae) e pelos ariacós (Lutjanus synagris).

Com relação a Frequência de Ocorrência no ferry boat Agenor Gordilho três espécies de peixes foram registradas em todos os levantamentos, foram elas o sargentinho (Abudefduf saxatilis), a salema (Anisotremus virginicus) e o xixarro (Decapterus macarelus). Vale ressaltar que 20 das 52 espécies registradas para este naufrágio apresentam mais de 50% de F.O. Já no rebocador Vega nenhuma espécie foi registrada em todos os levantamentos, as espécies com maior F.O. foram sargentinho (Abudefduf saxatilis) e o macaquinho-invasor (Omobranchus punctatus) que foram também as únicas espécies registradas em mais de 50% dos mergulhos, porém a quatinga (Haemulon aurolineatum) (F.O.=48%) tem sido registrada em todos os levantamentos desde o seu primeiro registro.

Com relação à abundância das guildas tróficas já começamos a notar uma mudança de fase, apesar de ainda muito abundantes os cardumes de espécies planctívoras como os xixarros (Decapterus macarelus), cromis (Chromis multilineata), sardinhas (Harengula spp.), entre outros já são menos numerosos, mesmo com o registro recente de um cardume de carapau (Chloroscombrus chrysurus), mudança que é observada com o aumento do número de espécies piscívoras e carnívoras como o registro de cavalas (Scomberomorus cavala), sororocas (Scomberomorus regalis), xaréus (Caranx hippos), barracudas (Sphyraena barracuda) e bijupirás (Rachycentron canadum), além de solteiras (Caranx crysos) e do número de exemplares de ariacó (Lutjanus synagris) que se encontra abundante em todos os estratos dos naufrágios, inclusive com exemplares de grande porte, além dos menos abundantes porém ocasionalmente observados dentão (Lutjanus jocu), cioba (Lutjanus analis), caranha (Lutjanus cyanopterus), badejo (Mycteroperca bonaci), meros (Epinephelus itajara), micholés (Diplectrum spp.), jabus (Cephalopholis fulva), boquinhas (Paranthias furcifer), linguados (Pleuronectiformes) e guaraiubas (Ocyurus chrysurus).
Outra guilda abundante é a dos invertívoros móveis como o jaguaraçá (Holocentrus adscensionis), o amboré-vidro (Coryphopterus glaucofraenum), a salema (Anisotremus virginicus), a quatinga (Haemulon aurolineatum), o biquara (Haemulon parra), o rufus (Bodianus rufus), a trilha (Pseudupeneus maculatus), o baiacu-graviola (Chilomycterus antillarum) e a cabrinha (Prionotus punctatus).

Os herbívoros são pouco abundantes, mas recentemente foram registrados os primeiros recrutas de budiões-batata (Sparisoma axillare) em ambos os naufrágios. Outras espécies de herbívoros errantes registradas nos naufrágios são os barbeiros e cirurgiões (Acanthurus spp.), e entre os herbívoros territorialistas o mais abundante é o macaquinho-invasor (Omobranchus punctatus), espécie exótica invasora, além do macaquinho (Ophioblennius trinitatis) e as donzelas (Stegastes spp.) que tem sido cada vez menos registradas.

Os invertívoros sésseis ainda não são frequentes e muito menos abundantes com apenas um registro de ciliares (Holacanthus ciliaris) e mais recentemente de alguns borboletas (Chaetodon striatus). Provavelmente com o estabelecimento e desenvolvimento das esponjas mais espécies desta guilda devem aparecer nos navios.

A guilda dos onívoros até o presente momento está representada pelas marias-da-toca (Parablennius marmoreus e Parablennius pilicornis) e por alguns sargentinhos (Abudefduf saxatilis) que eram mais abundantes nos primeiros dias do naufrágio, inclusive apresentando comportamento de defesa de ninhos.

O neon (Elacatinus figaro), espécie pertencente à guilda dos limpadores foi registrado uma única vez em cada naufrágio.


OUTRAS OBSERVAÇÕES
A pesca já começou a ser registrada na área dos naufrágios através do registro de catraias paradas sobre o ferry boat Agenor Gordilho pescando com linha de mão. Com a aproximação das embarcações das escolas e operadoras de mergulho, os pescadores destas catraias recolhem a âncora ou poita, recolhem a linha de pesca e seguem para outro pesqueiro. Comportamento semelhante era observado no naufrágio do cargueiro Cavo Artemide e no naufrágio do pesqueiro chinês Ho-Mei No.III.
Em um dos mergulhos realizados no ferry boat Agenor Gordilho foram encontradas duas caudas de sororoca (Scomberomorus cf. regalis) no passadiço da embarcação.
Ainda não houve registro de pesca no rebocador Vega, porém esta embarcação vem sendo frequentada por mergulhadores em apneia, mergulhadores que sabemos praticam pesca submarina. Geralmente estes mergulhadores aproveitam as paradas da maré de enchente ou de vazante quando também tem barcos de operadora de mergulho nos locais e até o momento estes mergulhadores não foram observados portando armas de mergulho.

IMPORTANTE
Não autorizamos o uso das informações e das imagens desta postagem para fins comerciais especialmente a utilização dos dados apresentados em relatórios técnicos ambientais sem a devida autorização. O monitoramento da biota aquática nos naufrágios do ferry boat Agenor Gordilho e do rebocador Vega vem sendo realizado desde novembro de 2020 pela equipe da EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico em parceria com a Shark Dive Escola e Operadora de Mergulho de forma voluntária, por iniciativa própria e sem vínculo com nenhum processo de licenciamento ambiental.
REFERÊNCIAS E FONTES CONSULTADAS
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Autor(es)
Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância.
Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições.
Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI.
Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.

Doroth Alves Cordeiro
Doroth é mergulhadora científica com habilitação em mergulho sidemount, intro to tech, nitrox e procedimentos descompressivos, além de formada em ciências biológicas pela Universidade Católica do Salvador (UCsal), foi pesquisadora do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática). Atualmente compõe a equipe de mergulhadores científicos da EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico e faz parte do staff da Shark Dive Escola e Operadora de Mergulho

Bruno Lima de Menezes
Bruno é mergulhador científica com habilitação em mergulho sidemount, intro to tech, nitrox e procedimentos descompressivos, além de instrutor de mergulho.
É também formado em ciências biológicas pela Universidade Católica do Salvador (UCsal) e foi pesquisadora do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática). Atualmente compõe a equipe de mergulhadores científicos da EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico e é um dos proprietários da Shark Dive Escola e Operadora de Mergulho.