Profundo é um conceito subjetivo e no que diz respeito ao mergulho científico pode ter mais de um tipo de leitura a significado

No mergulho recreativo o mergulho profundo é toda imersão realizada em profundidades superiores a 18m ou 60 pés que representa o limite padrão de profundidade permitida para o mergulhador recreativo básico (Open Water Diver ou equivalente) até a profundidade de 40m ou 130 pés que representa a profundidade máxima permitida para a prática do mergulho recreativo. Profundidades que ultrapassem os 40m vão além do mergulho recreativo e passam a ser realizados por mergulhadores com treinamentos técnicos adequados.
Os limites de profundidade do mergulho recreativo não são baseados em decisões arbitrárias, mas sim levando em conta a realização de um mergulho seguro sem a necessidade de procedimentos descompressivos, com risco controlado de narcose pelo Nitrogênio e disponibilidade de ar.

Já para alguns cientistas a definição de profundo está associado ao nível de presença de luz na água, sendo as águas profundas aquelas que estão na zona mesofótica (twilight zone), entre 35m e 150m de profundidade, área em que estão localizados os recifes profundos (deep reefs).
Os mergulhos na zona mesofótica exigem treinamento adequado, no trecho conhecido como mesofótico superior, entre 35m e 60m de profundidade é possível fazer mergulhos utilizando alguns cilindros montados na lateral do corpo no modo sidemount onde inclusive cada mergulho deverá conter uma mistura gasosa adequada a cada estrato de profundidade e etapa do mergulho que também deverá contar com a realização de procedimentos descompressivos longos. Para realizar este tipo de mergulho não basta ter uma habilitação em mergulho avançado (Advanced Open Water Diver ou equivalente) e um equipamento de mergulho recreativo, qualificações técnicas no uso de misturas gasosas e na realização de procedimentos descompressivos, além de um treinamento do uso de cilindros em sidemount e uma certificação em mergulho técnico (Intro To Tech ou equivalente) são extremamente necessários, isso sem falar no uso de coletes específicos e com lift adequado permitindoque suportem múltiplos cilindros, reguladores balanceados com engate DIN, nadadeiras que permitam ao mergulhador subir em ambientes onde a pressão atmosférica tende a te empurrar para baixo e redundância de muitos equipamentos incluindo computadores de mergulho que suportem múltiplas misturas simultâneas.

A zona mesofótica ainda apresenta duas outras subdivisões, o mesofótico intermediário entre 60m e 90m e o baixo mesofótico entre 90m e 150m, zonas abaixo dos 150m são chamadas de afóticas, sendo que alguns autores consideram que entre 150m e 300m ocorre a zona rarifótica.
Tanto para o mesofótico intermediário quanto para o mesofótico inferior o uso de arranjo um equipamento de mergulho de circuito aberto composto por um arranjo de cilindros e reguladores não é recomendado e inclusive torna-se inviável, nestas profundidades os mergulhos devem ser realizados com o uso de equipamentos de circuito fechado conhecidos por Rebreather. Já para o rarifótico o mergulho científico só é viável à bordo de submersíveis.

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Autor(es)
Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância.
Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições.
Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI.
Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.
Show!! Parabéns pelo artigo!