Qualifique-se : Ser um mergulhador científico é muito mais do que ser um cientista mergulhador!!!
Uma das regras mais difundidas no mergulho recreativo é a de que um mergulhador jamais deve mergulhar sozinho, os cursos básicos até demonstram a importância do sistema de duplas no mergulho, porém não deixam claro para o mergulhador que o sistema de duplas para funcionar adequadamente precisa que ambos os mergulhadores estejam aptos a agir em caso de emergência, que os mergulhadores devem manter sob quaisquer circunstância o seu dupla no seu campo de visão constantemente, etc.
Padrões de segurança relativamente fáceis de controlar em um grupo de mergulho recreativo guiado por pelo menos um profissional (seja instrutor ou divemaster) em pontos de mergulho de turismo tradicionais. O mergulho recreativo é uma atividade segura, com seus padrões bem conservadores e por isso tolerante a determinados “erros”.
Em outras categorias de mergulho onde o foco não é o turismo (mergulho científico e mergulho comercial ou profissional), os mergulhadores que estão dentro d´água estão focados em suas tarefas e manter a atenção em um suposto dupla resulta em perda de eficiência e muitas vezes no caso do mergulho científico na perda de qualidade do dado coletado. Por isso se diz que independente da quantidade de mergulhadores dentro d´água o mergulho científico invariavelmente é um mergulho solo.
Mesmo no mergulho recreativo e de turismo os instrutores e guias de mergulho, além dos fotógrafos submarinos também precisam manter o seu foco em outro ponto que não o seu dupla.
O mergulho solo como uma constante é um dos principais elementos que diferencia o todo mergulho científico de qualquer mergulho recreativo deixando claro que não basta uma formação básica de mergulho recreativo (mergulho básico ou Open Water, mergulho avançado e resgate) para se tornar um mergulhador qualificado, uma formação em mergulho mais robusta e em especial uma qualificação em mergulho solo é essencial.
O mergulho solo ou o mergulho auto-suficiente como é chamado em algumas certificadoras surgiu no mergulho técnico, mais precisamente nos mergulhos em caverna, locais com restrições de tal forma que se algo der errado o mergulhador dificilmente terá como contar com o seu dupla para resolvê-los e logo se tornou uma especialidade mais abrangente e acessível aos mergulhadores recreativos de uma forma geral.
O mergulho solo não se resume a mergulhar sozinho, a colocar o seu equipamento de mergulho habitual e fazer o seu mergulho sem a presença de outro mergulhador na água fazendo o mesmo plano de mergulho que você e constantemente no seu campo de visão, para se mergulhar solo o mergulhador precisa aprender a verificar o seu equipamento, a usar fontes alternativas de ar, ter redundância de gás e de instrumentos, além de aprender procedimentos adequados à resolução de problemas em baixo d´água.
Uma qualificação robusta é fundamental para quem precisa manter o foco em um determinado objeto de estudo e não pode dividir a atenção se preocupando se o seu dupla está ou não no seu campo de visão.
As principais certificadoras de mergulho oferecem cursos de especialidade em mergulho solo ou mergulho auto suficiente.
Apesar do mergulho solo ser a qualificação mais importante para um mergulhador científico, no mesmo patamar de importância de um curso básico de mergulho e de um curso de resgate, o mergulho científico ainda tem outras características que os afastam dos padrões conhecidos para o mergulho recreativo, tornam os mergulhos menos conservadores, menos tolerante a “erros” e portanto, enquanto não há uma formação adequada, exigem uma formação complementar disponível para mergulhadores recreativos e técnicos a fim de evitar aumentar a eficiência do mergulhador científico, além de reduzir os riscos à saúde e problemas de ordem laboral para os laboratórios e instituições de pesquisa que contratam este tipo de serviço.
Em breve vamos comentar aqui quais as outras qualificações de mergulho são indispensáveis na formação de um bom mergulhador científico.
Autor(es)
Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância.
Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições.
Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI.
Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.