A Biota Aquática da baía de Todos os Santos e costa Atlântica de Salvador, Bahia
Dragão-azul (Glaucus atlanticus)
- Classe: Gastropoda
- Ordem: Nudibranchia
- Família: Glaucidae
DESCRIÇÃO
Assim como a maioria dos nudibrânquios o Dragão-azul é bem pequeno, não ultrapassa os 4 cm de comprimento.
O corpo comprido e cônico de coloração azul bem clara apresenta duas faixas azul escuras longitudinais que se iniciam na cabeça e se encontram na extremidade da cauda. A coloração do ventre*, entre as faixas azul escuras, varia de individuo para individuo, podendo ser azulado ou cinza-prateado. Apresenta seis apêndices, três de cada lado do corpo que se ramificam em raios afilados de coloração azul escura que recebem o nome popular de dedos.
*Curiosidade, o que imaginamos ser o dorso do animal é na verdade o ventre, região que nos nudibrânquios chamamos de pé, a posição normal dele é flutuando de cabeça para baixo.

BIOLOGIA
O Dragão-azul é uma espécie de nudibrânquio de hábitos pelágicos e dificilmente é observado em águas rasas, na costa.
A maior parte do tempo o Dragão-azul passa flutuando de ventre para cima graças à uma bolsa de gás presente em seu estômago e quando avista alguma presa usa os apêndices para se deslocar.
A alimentação do Dragão-azul é baseada inclusive em animais maiores que ele, especialmente alguns cnidários pelágicos flutuantes como a Caravela-portuguesa (Physalia physalis), algumas espécies de moluscos nectônicos como o Caracol-flutuante (Janthina janthina), entre outros animais pelágicos, podendo inclusive praticar o canibalismo e se alimentar de outros exemplares da sua mesma espécie.

Um fato interessante é que ao ingerir a Caravela-portuguesa ou outros cnidários flutuantes o Dragão-azul armazena as toxinas para os eu próprio uso. Esta toxina é armazenada em sacos especiais na ponta de cada um dos dedos dos seus apêndices e devido sua concentração esta toxina armazenada pode se tornar ainda maior e mais potente que nas próprias Caravelas-portuguesas.
Apesar do Dragão-azul ter a capacidade de estocar e potencializar a toxina das Caravelas-portuguesas, devido ao seu tamanho, a quantidade estocada não é suficiente para causar danos aos seres humanos.
Como a maioria dos nudibrâquios o Dragão-azul é hermafrodita e a cópula se dá pela região ventral, enquanto que na maioria dos nudibrânquios ela se dá pela lateral, geralmente a diretia. Após a cópula elas produzem de 4 a 6 cargas de ovos, cada uma contendo 36 a 96 ovos. Um único Dragão-azul é capaz de produzir até 8.900 ovos por dia.

DISTRIBUIÇÃO
Apesar do nome específico em seu binômio “atlanticus” o Dragão-azul é cosmopolita, ocorre nas regiões temperadas e tropicais de todos os oceanos do mundo. No Pacífico ocorre um animal semelhante, atualmente conhecido por Glacilla marginata e que alguns cientistas consideram que na verdade “marginata” seja um grupo de espécies composto pelos Dragões-azuis-do-Pacifico-sul (Glaucilla bennettaei) e por duas espécies de Dragões-azuis-do-Pacífico-Norte (Glaucilla thompsoni e Glaucilla mcfarlanei), além do próprio Glaucilla marginata.
Nos períodos de ventos mais fortes esses animais costumam ser “empurrados” junto com as as Caravelas-portuguesas, suas presas, para regiões mais rasas onde nessas ocasiões podem ser observadas em pequenos grupos ou mesmo solitárias, algumas inclusive acabam mortas na areia da praia ou temporariamente presas à poças de maré.
Apesar de cosmopolitas e ocorrerem em todos os oceanos e mares temperados e tropicais não são muitos os registros reportados para as praias de Salvador, porém ocasionalmente estes animais são vistos nos meses mais frios durante a maré baixa nos períodos de mar grande (amplitude de maré alta) e fortes ventos alguns exemplares podem aparecer nas praias.
Este ano alguns exemplares foram registrados nas praias da Pituba e de Stella Mares.
STATUS DE CONSERVAÇÃO
Apesar de cosmopolita o Dragão-azul ainda não foi avaliado quanto ao seu status populacional pela IUCN, portanto não se encontra sob nenhuma categoria de ameaça.
Autor(es)
Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância.
Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições.
Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI.
Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.
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