Os censos visuais subaquáticos para peixes marinhos, em especial as espécies recifais, são métodos elaborados ainda na década de 1950, mais precisamente em 1954 em um artigo publicado no periódico Journal of Wildflife Management por V.E. Brock que divulgava o método de censo visual para estimar as populações de peixes recifais do Havaí. Desde então estes métodos evoluíram. Estes métodos visam a estimativa instantânea de abundância de peixes dentro de um determinado perímetro em um determinado tempo.
Estes métodos surgiram como alternativa aos métodos tradicionais que se davam através de métodos de pesca artesanais ou o uso de substâncias químicas para anestesiar ou mesmo matar os peixes e por fim captura-los. Estes métodos além de invasivos e causarem danos às comunidades, são pouco eficientes uma vez que registram apenas as espécies de peixes capazes de serem capturadas pelas artes de pesca utilizadas.
Já os censos visuais são métodos eficientes por serem relativamente fáceis de se aprender, são baratos, não envolvem a captura e portanto minimizam o impacto da ação do observador e por fim permitem a amostragem em ambientes de muita complexidade onde as tradicionais redes de pesca não tem serventia.
Existem várias técnicas bem diferentes de censo visual, sendo as mais comuns as que envolvem a aplicação de transectos lineares.

O Protocolo AGRRA (Atlantic and Gulf Rapid Reef Assessment) é um protocolo completo talvez um dos mais comumente utilizados, especialmente no Atlântico Ocidental. Este método consiste em esticar uma linha com 30m de comprimento e em natação lenta percorrer esta linha registrando todas as espécies observadas 1m à frente do observador, e que estejam a até 1m à esquerda ou à direita da linha do transecto.
Existem vários relatórios, artigos, monografias, dissertações e teses onde este protocolo foi utilizado como base e a técnica foi adaptada às condições locais de visibilidade e complexidade do ambiente.
Um dos grandes atrativos do Protocolo AGRRA está na quantidade de material de suporte disponível online no site do protocolo, dentre os quais uma planilha do Excell onde o pesquisador registra as informações obtidas em campo e ela já responde algumas questões simples como a densidade de peixes a cada 100m², o tamanho médio de determinados peixes nesta região, além de gerar informações que podem facilmente serem analisadas em outras ferramentas estimando outros índices.
Além dos censos que utilizam transecto existem os censos estacionários que consistem em registrar todas as espécies observadas dentro de uma determinada área cilíndrica imaginária com raio constante ao redor do mergulhador por um determinado tempo e logo em seguida, por outro tempo quantificar estas espécies.
Estes métodos oferecem uma série de vantagens sobre os métodos tradicionais de avaliação de comunidades de peixes recifais e algumas em relação aos métodos que incluem transectos. Os censos visuais estacionários uma vez que não requerem equipamentos adicionais como esticar as linhas dos transectos que consomem tempo e podem se tornar complicadas em locais com ambiente muito complexo.
Os censos visuais estacionários ainda requerem tempo de amostragem relativamente curto em se comparando com outros métodos permitindo a realização de mais censos em um único mergulho, e por fim ele pode ser aplicado em qualquer tipo de ambiente desde que haja uma visibilidade horizontal maior que o raio planejado para o cilindro imaginário.

As desvantagens dos censos estacionários estão na falta de material didático e de suporte exigindo mais dos pesquisadores durante o delineamento das pesquisas.
Existem diversos outros métodos de censo visual, alguns muito complexos e outros bem simples, alguns tão simples que são divulgados para que os mergulhadores recreativos possam colaborar com as pesquisas preenchendo dados de observações realizadas no seu mergulho do final de semana em formulários online ou mesmo em aplicativos, como os métodos do REEF (Reef Environmental Education Foundation) ou os protocolos do Reef Check.
Um dos métodos do REEF é o Rovering Diver Census (RDC) que consiste em nadar por 45 minutos em uma determinada área registrando e quantificando todas as espécies observadas. Como se trata de uma busca ativa se faz necessário vasculhar em fendas nos recifes, locas, etc. Tem que procurar por toda a área. Este método permite sugerir a abundância de cada peixe de acordo com o número de indivíduos observados como espécie pouco abundante, abundante e muito abundante. Geralmente o RDC é utilizado como um método complementar, apenas para ampliar os registros qualitativos destinados exclusivamente à composição de lista de espécies.
Tanto no Protocolo AGRRA quanto nos censos visuais estacionários não são anotados apenas os nomes dos peixes ou a quantidade de peixes observados de cada espécie, estes registros são realizados classificando estes peixes de acordo com o seu tamanho geralmente utilizando as classes: 0 a 5cm, 6 a 10cm, 11 a 20cm, 21 a 30cm, 31 a 40cm e maiores que 40cm o que permite estimar a biomassa.

A fim de agilizar os registros e poupar espaço nas pranchetas ou folhas de registro o Protocolo AGRRA definiu códigos que sugere serem utilizados para representar cada uma das espécies utilizando 6 dígitos com base no binômio de cada espécie, onde os 3 primeiros dígitos do código representam as 3 primeiras letras do gênero do peixe e os 3 últimos dígitos do código representam as 3 primeiras letras da espécie. Exemplo:
O binômio do peixe Sargentinho é Abudefduf saxatilis onde as três primeiras letras do gênero são ABU e as três primeiras letras da espécie são SAX, estes dígitos unidos forma o código ABUSAX. Já para o Parú cujo binômio é Pomacanthus paru o código é POMPAR.
O protocolo não define formas para representar peixes apenas pelo gênero, o que seria útil para espécies novas sendo descritas, porém alguns pesquisadores passaram a utilizar SPP no lugar das 3 primeiras letras da espécie. Exemplo:
O Macaco (Malacoctenus sp.) é uma espécie endêmica do Brasil cuja espécie ainda está em análise para ser descrita e então ele é geralmente reportado apenas pelo gênero, nesse caso para facilitar o registro uma opção é utilizar MAL (três primeiras letras do gênero) e SPP formando o código MALSPP.
Apesar das diversas técnicas diferentes, apenas conhecer todas elas e saber definir qual a melhor delas para a sua necessidade não é o suficiente, nos censos visuais o elemento mais importante é conseguir, com uma olhada rápida identificar qualquer das espécies possíveis de serem registradas na área a ser estudada a ponto de conseguir registra-la e quantifica-la imediatamente.
Identificar peixes não é difícil, porém necessita bastante prática e principalmente leitura, muita leitura. É importante frisar que por mais que o pesquisador conheça muitos peixes e saiba identificar uma grande quantidade de peixes, ele constantemente vai consultar e validar suas identificações em guias especializados.
FONTES E BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
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Autor(es)
Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância.
Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições.
Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI.
Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.