Quebra-mar Norte

O Quebra-mar Norte é uma estrutura formada por blocos de pedra e um paredão de concreto na porção superior com aproximadamente 1.400m de comprimento por 6m de largura, cuja profundidade da área que fica submersa varia de 6m a 8m. O Quebra-mar está distante cerca de 500m do Porto de Salvador protegendo a zona de evolução do porto das ações e correntes de maré da baía de Todos os Santos.

Plano Geral do Projeto das Obras de Melhoramento do Porto da Bahia (1912).

Dados do Ponto de mergulho

  • Localização: Baía de Todos os Santos, aproximadamente 500m em frente ao Porto de Salvador, paralelo à costa
    • Coordenadas
      • Latitude: -12.960245º
      • Longitude: -38.514118º
  • Profundidades
    • Mínima: menos de 1m no topo das pedras do enrocamento, bem próximo ao paredão.
    • Máxima: 6 a 8m na areia
  • Visibilidade média: A maior parte do tempo a visibilidade gira em torno de 10m de visibilidade na horizontal nas marés mortas (luas crescente e minguante), mas na maré grande (luas nova e cheia) cai bastante, porém em algumas marés mortas, especialmente no verão, pode ultrapassar os 15m na horizontal.
  • Distância da costa: aproximadamente 500m
  • Tempo de navegação à partir do Porto de Salvador: menos de 10 minutos
  • Nível mínimo de certificação: Básico. É um excelente ponto para batismos também.
  • OBS.: Por estar na baía de Todos os Santos este ponto de mergulho sofre com ações das correntezas de maré onde na vazante a correnteza tende a ser mais forte e jogar para fora da baía, já na maré de enchente as correntezas são mais brandas e jogam para dentro da baía. O ideal é mergulhar nos períodos de lua crescente e minguante nas paradas das marés ou programar um drift.
Localização do Quebra-mar Norte na baía de Todos os Santos (Fontes: Google Earth e Carta Náutica DHN 1102 Porto de Salvador)
Visão geral do Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Descrição do Ponto de Mergulho

Nos cerca de 1.400m de extensão o ponto se caracteriza por um amontoado de pedras, já completamente colonizadas atuando como um complexo e belíssimo recife artificial, que formam a base do Quebra-mar sobre o fundo areno-lodoso até quase a superfície, onde também é possível mergulhar ao lado do paredão de concreto que se ergue até alguns metros além da superfície.

Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Em alguns pontos, na areia, tem alguns patch reefs (pequenas porções recifais) com aglomeração de corais-mole-brasileiro (Neospongodes atlanticus) formando pequenos jardins de corais, semelhante aos jardins do Banco da Panela, ponto de mergulho bem próximo ao Quebra-mar Norte.

Um dos patch reefs com mini-jardins de Coral-mole-brasileiro (Neospongodes atlanticus) adjacentes ao Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Ao mergulhar próximo ao paredão é importante tomar bastante cuidado com linhas de pesca, é comum ter bastante pescadores de linha sobre o quebra-mar. O ideal é mergulhar sempre na região mais próxima à interface entre o recife e a areia.

Inclusive muitas destas linhas de peca ficam presas às rochas e nas colônias do Coral-de-fogo (Millepora spp.), algumas inclusive presas a velas de carro utilizadas como “chumbada”. Estas linhas muitas vezes apresentam anzóis reforçando ainda mais a regra de não tocar em nada durante o mergulho, porém além de poder machucar um mergulhador, estes anzóis mesmo sem isca, enquanto estiverem perdidos no fundo continuam “pescando”, capturando peixes que podem acabar morrendo presos ao anzol.

Velas de carro recolhidas no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Além de linhas, no local também é possível encontrar restos de redes de pesca que assim como os anzóis perdidos continuam capturando e matando a fauna.

Restos de um Siri-bidu (Charybdis helleri) (espécie exótica invasora) preso em um resto de rede no Quebra-mar Norte, provavelmente este animal se enredou acidentalmente e acabou morrendo, além do fato de que se tornou uma presa fácil, o que justifica a falta de alguns membros (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Instrutores de mergulho e Dive Masters de Salvador, sempre que possível e quando a ação não oferece nenhum tipo de risco, costuma retirar estes petrechos de pesca dos pontos onde eles mais se concentram reduzindo os efeitos da pesca fantasma e os riscos para o mergulhador. E da mesma forma, seguindo o planejamento, o roteiro e principalmente as recomendações das operadoras de mergulho não há risco de enredamento acidental ou acidente com anzóis.

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Devido a proximidade com o Porto de Salvador e por ser frequentado por uma grande quantidade de pessoas que passam horas sobre a estrutura pescando, também é possível encontrar lixo no local, porém memso asim este não é um ponto que podemos considerar de grande concentração de lixo marinho.

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Biodiversidade

O ambiente recifal que se formou com a construção do Quebra-mar atraiu uma infinidade de espécies recifais tornado este um ponto riquíssimo em biodiversidade.

Colônia de Zoanthus sp. registrada no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Dentre as espécies incrustantes se destacam as inúmeras espécies de esponjas de diversas cores, tunicados, zoantídeos e corais, dentre as espécies o Baba-de-boi (Palythoa caribaeorum), Zoanthus sp., Coral-mole-brasileiro (Neospongodes atlanticus), Coral-de-fogo (Millepora spp.), Siderastrea stellata, Montastraea cavernosa, coral-cérebro (Mussismilia hispida), Favia sp., Coral-prato (Agaricia fragilis), entre outras.

Colônia de Montastraea cavernosa registrada no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)
Coral-cérebro (Mussismilia hispida) registrada no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Dentre os invertebrados móveis diversas espécies de caranguejos, de diversos tamanhos e cores, dentre ele o Caranguejo-aranha (Stenorhynchus seticornis), o Siri-bidu (Charybdis helleri), ouriços, o Poliqueta-de-fogo (Hermodice carunculata), Camarões-palhaço (Stenopus hispidus), Lagostas (Panulirus spp.), Polvo (Octopus vulgaris) e muitos outros.

Poliqueta-de-fogo (Hermodice carunculata) registrada no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Já entre os peixes é possível ver cardumes enormes de Barbeiros-azuis (Acanthurus coeruleos) ou mesmo cardumes mistos de barbeiros que além do Azul tem ainda o Comum (Acanthurus bahianus) e o Cirurgião (Acanthurus chirurgus). Cardumes enormes de quatinga (Haemulon aurolineatum) podem ser observados por todo o Quebra-mar, além de cardumes de Decapterus sp.

Cardume de Quatingas (Haemulon aurolineatum) passando por uma colônia de Coral-de-fogo (Millepora sp.) no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

À noite é um dos principais pontos de mergulho para se observar budiões dos gêneros Scarus e Scarisoma envoltos em seu muco, inclusive do Budião-azulo (Scarus trispinosus) cujos raros jovens podem ser observados durante o dia entre as pedras e com alguma sorte indivíduos adultos formando cardumes de exemplares até 5 kg.

Peixe-morcego (Ogcocephalus vespertilio) registrado no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Além dos peixes que formam grandes cardumes também é possível observar outros peixes como as Donzelinhas (Stegastes variabilis), Marias-pretas (Stegastes fuscus), Gregórios (Stegastes pictus), Sargentinhos (Abudefduf saxatilis), Marias-nagô (Pareques acuminatus), Cromis (Chromis multilineata), Jaguaraçás (Holocentrus adscansionis), Salemas (Anisotremus virginicus), Grama (Gramma brasiliensis), Budiõezinhos (Halichoeres spp.), Crisurus (Microspathodon chrysurus), Guraiubas (Ocyurus chrysurus), Ariacós (Lutjanus synagris), Pescadinha-de-pedra (Odontoscyon dentex), Amborés-vidro (Coryphopterus glaucophraenum), Parús e Frades (Pomacanthus spp.) entre muitos u=outros, inclusive Cavalos-marinhos-de-focinho-longo (Hippocampus reidi).

Cavalo-marinho-de-focinho-longo (Hippocampus reidi) registrado no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)
Indivíduo jovem de Maria-nagô (Pareques acuminatus) registrado no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)
Donzelinha (Stegastes variabilis) registrada no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)
Maria-preta (Stegastes fuscus) registrada no Quebra-mar Norte próxima a colônias de Siderastrea stellata (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)
Lagosta-comum (Panulirus argus) registrada no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)
Lagosta-verde (Panulirus laevicauda) registrada no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)
Caranguejo-aranha (Stenorhynchus seticornis) registrado no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Evento de branqueamento 2019

Dentre os pontos de mergulho de Salvador e baía de Todos os Santos o Quebra-mar Norte foi o que mais sofreu com o evento do branqueamento, fizemos mergulhos neste ponto em maio, bem depois do verão, e registramos temperaturas da água entre 30ºC e 31ºC e uma grande quantidade de corais branqueados.

Colônia de Coral-de-fogo (Millepora sp.) totalmente branqueada registrada no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)

Hoje, dezembro de 2019, a maioria das colônias já se recuperaram, porém houve uma perda significativa, especialmente dos Corais-de-fogo (Millepora spp.).

Colônia de Coral-de-fogo (Millepora sp.) recuperada parcialmente após o evento do branqueamento. Registro feito no Quebra-mar Norte (Foto: Rodrigo Maia-Nogueira)
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Autor(es)

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Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância.
Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições.
Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI.
Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.

About Rodrigo Maia-Nogueira

Mergulhador e apaixonado pelos oceanos desde a infância. Desde a década de 1990 está envolvido em ações e pesquisas relacionadas com a biota aquática, tendo sido coordenador de resgate do Centro de Resgate de Mamíferos Aquáticos (CRMA) do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e fundador do Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos (Biota Aquática) e do EcoBioGeo Meio Ambiente & Mergulho Científico, e ao longo dos anos participou de projetos de pesquisa e de consultoria na ambiental em parceria com diversas instituições. Também atua como instrutor de mergulho SDI e PADI. Tem como objetivo, além de produzir informação de qualidade fomentar o reconhecimento e a qualificação dos mergulhadores científicos.

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